domingo, 20 de fevereiro de 2011

(Des)Igualdades entre Géneros e os SASUC

Foi numa conversa de sala-de-estar que surgiu a discussão: Porque é que as estudantes residentes nos alojamentos universitários dos Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra (SASUC), ao abrigo das suas regras superiores, possuem obrigações diferentes das que respeitam aos estudantes de género masculino?

Existiu, em tempos, abrigada na omissão de regulamentos ou normas, uma discriminação (negativa?) entre estudantes homens e estudantes mulheres alojados(as) em Residências Universitárias (RU) na Universidade de Coimbra. Essa discriminação consistia na diferente obrigação para com as tarefas desempenhadas por estes estudantes beneficiários de um apoio: as raparigas limpam os espaços comuns das residências onde moram... os rapazes não.

Talvez a ideia fosse a de que as raparigas – estudantes – possuem super poderes capazes de ajudar as suas homólogas funcionárias (sim, porque, confesso, nunca vi um funcionário da limpeza, sem contar com oficinas automóveis, onde tudo fica limpo com um bom pano encharcado em óleo) a levar a cabo o dificílimo trabalho que é pegar numa esfregona e num balde... e lavar o chão. Ou talvez, pelo contrário, seja uma perspectiva de inferioridade mecânica dos rapazes, cujas capacidades intelectuais, de tão elevadas, tornam-se um tanto ou quanto limitadas e não lhes permitem distinguir entre um lava-louças limpo e um sujo, e qual o método científico vigente para exterminar bactérias de um prato ou de uma colher. Não será por acaso que as RU Masculinas construidas durante o Estado Novo possuíam cozinhas extremamente pequenas.

A verdade é outra, infelizmente. A visão da sociedade que transforma a mulher na fada do lar é a aquela que fez (faz?) com que tal distinção surgisse como “natural”: é normal que a mulher saiba cozinhar, passar a ferro, manter uma casa limpa e confortável; do mesmo modo que seria “normal” que um homem conduzisse, lê-se o jornal e chegasse a casa com o jantar na mesa, pronto a servir. É esta sociedade que estabelece a diferença de géneros, entre as competências que uns devem ter, que umas nunca terão, e vice-versa.

E assim se chegava a uma Residência Universitária, provavelmente oriundos(as) de terras diferentes, distantes, sem o apoio de familiares, muitas das vezes conhecendo ninguém, partilhando um quarto com um(a) desconhecido(a), num mundo de hierarquias ditadas pelos(as) veteranos(as), em que as primeiras reuniões se distinguiam por uma coisa: tabelas/escalas/listas de limpeza. Para os rapazes estas certamente não existiam; para as raparigas sim.

Ao longo dos anos os pormenores mudavam sub-repticiamente: umas vezes as raparigas usufruíam da “ajuda” das funcionárias para os encargos de asseio; outras vezes recebiam um suplemento na bolsa de estudo, uma modesta quantia que compensasse o seu bom trabalho; outras ainda, em que nem recebiam ajudas “funcionais” nem “monetárias”.

Todos estes aspectos contribuíram para que a discriminação nas tarefas de limpeza não só aumentasse, como se enraizasse, a ponto de ouvir rapazes alojados em RU dizer «Eu ando na Universidade para tirar um curso, não é para limpar!». Pois é. Surge a pragmática questão: Então e as raparigas que estudam no Ensino Superior, não estarão lá, igualmente, para tirar um curso? Ou estarão lá, somente, para limpar? E, já agora, como o conhecimento não ocupa lugar, aproveitam e aprendem umas coisitas...

De há uns tempos para cá, estes acontecimentos têm sido sujeitos a pequenas particularidades: foram construídas RU relativamente recentes, cujos alunos(as) que nelas habitam, desde o início, foram confrontados(as) com a “Secção de Limpezas”. Quer rapazes, quer raparigas fazem parte de um método organizativo e, principalmente, inclusivo, para a mais adequada forma de manutenção do asseio nos espaços comuns – salas, cozinhas e casas de banho. Para os(as) mais desleixados(as), parecem existir as mais criativas formas de resolução de problemas, como por exemplo: as multas.

Quanto às Residências da Alta, mais antigas e conformadas, masculinamente falando, ou, em casos de residências unicamente femininas, por vezes, ignorantes da injustiça a que eram sujeitas as RU com Alas feminina e masculina, tudo se ia mantendo na mesma. A indignação crescente das estudantes que semanalmente provavam o sabor amargo da exclusão levou a que, mais do que uma RU aproximadamente no mesmo espaço de tempo, entrasse em contacto com os SASUC para contestar a situação.

A resposta que lhes era dada – a de que estavam a ser reunidos esforços para regulamentar a situação de igualdade intrínseca entre estudantes residentes; de que já estavam a falar com as RU Masculinas para as “familiarizar” com a situação, «porque sabem, é uma tarefa com a qual eles não lidam muito bem, temos de ir com calma...» - não as contentava.

Sucessivas reuniões de Delegados(as) deram voz à discussão, junto dos responsáveis pelo Pelouro da Acção Social da AAC, junto do Administrador dos SASUC, aquando da discussão pública do Regulamento para as RU e, também, de perto com o Provedor do Estudante. Reivindicação essa partilhada, bem de perto, pela Plataforma de Residências da Universidade de Coimbra. A opinião unânime de que era inadmissível que a situação discriminatória, não só entre os géneros dos residentes, mas também, entre as próprias residências, fosse alimentada nos dias de hoje, divergia quanto às soluções propostas – para os estudantes, o ideal seria a não (pre)ocupação com as lides domésticas; para os SASUC a contratação de mais funcionárias seria impossível.

Por fim, em Setembro de 2010, com a aprovação do Regulamento das RU da UC, o n.º 1 do artigo n.º 8 – Limpeza dos quartos e espaços comuns – deixa bem claro: “Os residentes devem zelar pela conservação e limpeza do quarto e equipamentos postos à sua disposição, sendo a sua limpeza da responsabilidade de cada um dos seus ocupantes.”, pelo que a solução encontrada pelos SASUC para a não sobrecarga das tarefas nos estudantes será que os primeiros “procedem à limpeza profunda de áreas comuns com periodicidade quinzenal”, segundo a primeira parte do n.º 3 do referido artigo.

Faz, no final de Março, um ano que se abriu portas às tentativas de resolução desta controvérsia. Está na altura de fazer um “pré-balanço”: O que é que mudou no comportamento dos estudantes a quem diz respeito a limpeza das RU?

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Protesto contra condições das residências







A Plataforma das Residências juntou-se ao cortejo da Latada para chamar a atenção para o estado de degradação das residências de estudantes da Universidade de Coimbra. “O estado das residências põe-me Gago”, lia-se na faixa que exibiram, exigindo também mais financiamento e menos burocracia.
Hugo Ferreira, porta-voz da plataforma, elogia as unidades recentes, mas alerta para o facto de as mais antigas apresentarem condições que colocam em risco o sucesso escolar dos moradores. Uma das que, segundo o estudante apresenta pior estado é a Residência Feminina de S. Salvador, para a qual reverteu um peditório que foi realizado durante a tarde.

in Diário de Coimbra

Plataforma de Residências da UC no Cortejo das Latas

Plataforma de Residências da UC no Cortejo das Latas, leia aqui a notícia.

Já antes, um grupo de estudantes a viver em residências universitárias se juntava aos protestos, com uma faixa onde se lia: "O estado das residências põe-me Gago", numa alusão ao ministro do Ensino Superior. "É um esforço de consciencialização colectiva em relação ao estado das residências universitárias. As mais antigas têm mais de 30 anos e estão já muito degradadas, e aproveitámos a exposição pública do cortejo para fazer o protesto", conta Hugo Ferreira, porta-voz da Plataforma de Residências Universitárias de Coimbra. in Jornal de Notícias












Mais fotos aqui

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Plataforma de Residências da Universidade de Coimbra junta-se aos protestos no Cortejo da Festa das Latas

A Plataforma de Residências juntar-se-à amanhã ao Cortejo da Festa das Latas, com faixas e pancartas, com o intuito de denunciar o estado de degradação em que se encontram as Residências Universitárias em Coimbra, o desinvestimento por parte do Governo da República no Ensino Superior e nas suas instituições de apoio social e o corte desenfreado nas bolsas de estudo provocadas pelas políticas de austeridade e pelo decreto de lei 70/2010.

No decorrer do cortejo a Plataforma de Residências Universitárias de Coimbra também fará uma recolha de fundos simbólica que reverterá para a Residência Feminina de São Salvador, uma das mais degradada e precária de toda a Universidade.

Para além destas denúncias a Plataforma também mobilizará para a manifestação nacional de estudantes marcada para 17 de Novembro de 2010.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Queixa ao Provedor do Estudante na Imprensa

Residências estão mais caras e degradadas. Alunos da universidade dizem que o diálogo está a acabar e prometem protestos.

Os estudantes de Coimbra estão revoltados com o aumento do valor de caução para as residências universitárias. Este ano tiveram de pagar 57 euros, mais sete euros do que em relação no ano lectivo passado, algo incompreensível para a Plataforma de Residências da Universidade de Coimbra (PRUC), tendo em conta que noutros locais ou não se paga ou os valores são muito mais baixos.

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Estudantes de Coimbra contestam aumento da caução nas residências

A Plataforma de Residências da Universidade de Coimbra (PRUC) contestou hoje o aumento do valor da caução dos estudantes residentes, por entender que num período de crise esse pagamento, “já de si injusto”, menos se compreende.

“Neste cenário de crise social não se consegue perceber o porquê do aumento do valor de uma caução, já de si injusta e lesiva, de 50 euros, para 57 euros efetuado pelos Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC), que assim parecem ignorar a petição subscrita por 600 estudantes contra aquele pagamento”, refere a organização em comunicado.

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A PRUC enviou hoje, 18, uma carta com queixas ao Provedor do Estudante relativamente à degradação das residências universitárias. "A DG/AAC está a ter uma postura de silêncio incompreensível" quanto a este processo, acusa Hugo Ferreira

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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Resumo da Carta enviada pela PRUC ao Provedor do Estudante da Universidade de Coimbra

A Plataforma de Residências da Universidade de Coimbra enviou hoje uma carta ao provedor do estudante da Universidade de Coimbra, alertando para os problemas em matéria de acção Social escolar em geral e da situação das residências universitárias em particular. Esgotada de forma inglória a via do diálogo com os SASUC e o pelouro de acção Social da D.G-AAC, que ignoraram todas as nossas propostas alternativas na discussão do Regulamento Geral das Residências da Universidade de Coimbra, a PRUC decidiu enviar ao Sr. Provedor uma carta onde além de um conjunto de participações, enuncia um conjunto de recomendações para melhorar os serviços dos SASUC.

Para além da apreensão em relação às consequências do Decreto-Lei 70/2010, designadamente a diminuição do número de bolseiros e a redução do valor das bolsas de estudo, a PRUC lamenta e contesta o aumento do valor do prato social de 2.15 Euros para 2.40 Euros e demais consequências lesivas em que o sub-financiamento estatal se tem traduzido.

É, pois, neste cenário de crise social que a PRUC não consegue perceber o porquê do aumento o valor de uma caução, já de si injusta e lesiva, de 50 Euros, para 57 Euros efectuado pelos SASUC, que assim parecem ignorar, a petição subscrita por 600 estudantes contra aquele pagamento. Neste sentido, interpela o Provedor do estudante da UC que recomende aos SASUC um modelo de prevenção que penalize apenas os transgressores, no momento em que o dano se verifica e apenas na medida deste. A manter-se o modelo injusto de Caução, a PRUC reivindica 2 condições:

1-Diminuição imediata do valor da Caução, pelo menos em 50%;

2- A possibilidade de se poder proceder ao seu pagamento apenas no momento da definição de atribuição ou não de bolsa e seu respectivo pagamento, no caso de candidatos a bolseiros, para que nenhum estudante fique à partida excluído;

Outro dos pontos presentes na carta da PRUC ao provedor do estudante da UC, prende-se com a excessiva burocracia já de si existente nos SASUC, agora acrescida pela exigência da Caução. Para fazer face a este problema a PRUC sugere que o provedor do estudante recomende aos SASUC as seguintes alterações na sua prática:

1- A possibilidade de celebrar o contrato de alojamento através de meios electrónicos ou postais, através da disponibilização do respectivo contrato via e-mail pelos SASUC. Assim se evitariam as filas intermináveis no Serviço de Alojamento como as verificáveis em Setembro último.

2- Consagrar a candidatura a alojamento, válida não por um único ano lectivo, mas por ciclos de estudo, salvo casos excepcionais (dívidas aos SASUC, comportamento contrário ao Regulamento, alteraçaõ substancial da situação sócio-económica).
Por último, a PRUC chama a atenção do Sr. Provedor do estudante da UC para a crescente descaracterização dos diversos serviços de acção social, em particualr dos sasuc, que vem fazendo destes serviços meros serviços administrativos, amputando-lhe da necessária sensibilidade social que o seu próprio nome exige.

terça-feira, 14 de setembro de 2010





"Nós, estudantes da Academia do Porto, em protesto nesta Cerimónia Oficial dizemos:


Não há cerimónias porque nos últimos dez anos, um terço dos estudantes mais pobres abandonou o Ensino Superior, sendo que esta realidade aumenta a cada ano que passa.


Não há cerimónias porque nos últimos 15 anos, as propinas aumentaram 400% em Portugal.


Não há cerimónias enquanto este for o terceiro país da Europa com a propina mais elevada.


Não há cerimónias enquanto tivermos um problema de democracia no Ensino Superior.


Não há cerimónias enquanto a redução e a falta de verbas destinadas à Acção Social continuarem a empurrar estudantes para fazer empréstimos.


Não há cerimónias porque 11 mil estudantes devem 130 milhões de euros à banca, quando ainda não trabalham, e não têm nenhuma garantia em relação ao seu trabalho futuro.


Não há cerimónias enquanto a maioria dos 70 mil bolseiros em Portugal receber de bolsa mínima apenas 100 euros por mês.


Não há cerimónias quando a resposta a um pedido de bolsa demora em média 4 meses.


Não há cerimónias quando, numa das maiores crises sociais de todos os tempos, o Governo decide reduzir nas bolsas, atirando estudantes para fora do Ensino Superior.


Não há cerimónias quando um ano lectivo começa sem os Serviços de Acção Social saberem os dados que necessitam para analisar os pedidos de bolsas, porque o Sr. Ministro ainda não fez aprovar o Despacho necessário.

Não há cerimónias enquanto este «Ensino» só for público para quem tem 1000 euros para pagar as propinas.

Nós, grupo de estudantes aqui em protesto, dizemos: Ensino Superior Público para todos e todas."