De acordo com os objectivos fixados no início da sua actividade, a PRUC visitou com sucesso, ao longo do presente mês de Março, as 13 residências universitárias dos SASUC. Entre a zona do Pólo 1 e as zonas dos Pólos 2 e 3, foram várias as opiniões e queixas recolhidas, sendo estas últimas, na maior parte das vezes, partilhadas na forma de desabafos de quem já não acredita em grandes mudanças. Tal descrença surge pelo facto de muitos destes residentes terem, em momentos anteriores, apresentado junto dos SASUC as suas queixas relativamente a problemas vividos no dia-a-dia das residências e às quais raramente são dedicadas respostas concretas a curto e médio prazo. Os residentes sentem então que as suas necessidades são subvalorizadas, consubstanciando-se numa eterna espera e delongamento do seu bem-estar e qualidade de vida, os quais encontram-se claramente definidos no regulamento das residências dos SASUC enquanto propósito destes últimos. Esta parece ser a opinião da grande parte dos estudantes residentes abordados pela PRUC.
Quanto à iniciativa da petição contra a caução, é consensual entre um grande número de residentes que a aplicação da caução no início do mês de Setembro, quando ainda não haviam sido atribuídas as bolsas de estudo, constituiu um encargo pesado e inesperado, visto que não foram avisados sobre a aplicação de tal medida. A verificação do desconhecimento dos residentes relativamente à não regulamentação da caução fundamenta, por si só, o reflexo de uma relação de pouca proximidade entre os estudantes e os SASUC e que carece da inteligibilidade necessária a qualquer cidadão utilizador e pagador de serviços no que toca aos processos burocráticos das instituições. Tal complexidade e peso das práticas excessivamente burocratizadas dos SASUC parecem, então, afastar dois grupos sofredores do mesmo mal: o desinvestimento público actual no ensino superior. A diferença entre ambos reside apenas no grau das consequências – para uns, uma leve dor de cabeça no local de trabalho, para outros, a degradação diária das condições habitacionais usufruídas durante a estadia em Coimbra, designadamente quanto à segurança (por exemplo, móveis podres ou o desabamento parcial de um tecto), conforto (por exemplo, constrangimentos com água quente para o banho, insuficiência de equipamentos domésticos, mau isolamento das divisões) e salubridade (por exemplo, existência de ratos), entre outras.
Por outro lado, é consensual entre os estudantes abordados a opinião de que a aplicação da caução, sem que tenha sido feito um inventário sobre as condições estruturais e materiais actuais das residências, constitui um paradoxo. Qual será então o limite entre o desleixo dos residentes e a negligência dos SASUC na manutenção das habitações? Sem uma avaliação prévia de tais condições, com base em que critérios é que estão a ser avaliados actualmente os estragos? Até ao momento tais critérios parecem ser do exclusivo conhecimento dos SASUC. Mesmo tendo em conta as vozes que não se opõem à aplicação da caução, todos concordam unanimemente que a aplicação da caução, nos moldes em que está a ser concretizada actualmente, é imprópria e que resulta numa situação injusta para os estudantes.
No que toca à iniciativa do caderno reivindicativo, de uma forma geral os residentes demonstraram vontade em, mais uma vez, enumerar os problemas e carências das suas residências. De referir que, com alguma surpresa, as residências dos pólos 2 e 3 enumeraram também diferentes tipos de problemas: a) falta de equipamentos e problemas estruturais das casas; b) o meio ambiente em que estão inseridas, donde se destaca o isolamento, devido à escassez de transportes e de serviços naquela zona.
Portanto, se por um lado as residências mais antigas padecem dos efeitos da velhice das suas fundações, seriamente agravados pela ausência de qualquer tipo de manutenção, por outro as residências mais recentes parecem sofrer precocemente de algumas dessas maleitas, acrescidas de novas necessidades que não se verificam nas habitações do pólo 1. De notar que, apesar de à primeira vista não parecer uma verdadeira carência, as residências construídas recentemente surgem desprovidas de elementos característicos de um “lar”, tendo linhas excessivamente minimalistas que resultam em espaços desumanizados e impessoais e que não se coadunam com a criação de sentimentos de pertença a um espaço comum, como é o caso de algumas residências do pólo 1.
Por outro lado, a gestão desigual dos bens entre as residências mais antigas e as mais recentes suscita uma questão inquietante: estarão os SASUC a deixar em agoniante espera tais habitações, até ao momento em que todas as unidades orgânicas da UC funcionem nos pólos 2 e 3 e, portanto, que todos os residentes sejam transferidos para lá? E entretanto, o que nos compete a nós, estudantes, fazer enquanto cidadãos? Esperar, adiando os nossos direitos para amanhã ou reivindicá-los agora? Para quem optar por esperar, surge desde já um esboço daquela que parece ser a situação aguardada: as residências dos pólos 2 e 3, apesar de serem novas, também apresentam problemas estruturais, logo a espera certamente irá continuar… para não falar que surge uma espera acrescida pelos meios de transporte públicos e pelas redes de vizinhança que se perderam, e que dariam outra cor à estadia na (des)romantizada cidade dos estudantes.
Para nós, Movimento da PRUC, parece-nos que muitos não querem esperar! Ou não fosse a espontaneidade com que uma dezena de estudantes se juntou em torno desta causa, (incluindo não residentes e não bolseiros) a responsável pela concretização deste primeiro objectivo de visitar as residências durante o mês de Março com sucesso! Assim como a óptima recepção oferecida pela maioria dos residentes visitados.
A todos eles, obrigada! Continuemos então a caminhada, pois ninguém melhor do que os residentes que sentem diariamente todos estes problemas para dar voz a esta causa!